sábado, 8 de dezembro de 2012

O Natal


 

Quando pensei em escrever sobre o natal não saiu nada...do que tencionei.Queria algo infinitamente bonito ...com uma suavidade que aconchegasse a alma do leitor e que transmitisse fé na vida ,fé nos planos futuros.Bem .. verdade : as vezes coisas bonitas teem as vezes conotação triste ,porque beleza em estado bruto também é tristeza exposta à mão sem maquiagem ou lápis de cor.Beleza também se doa em forma de  dor criptografada em papel ou em documento digital...
E penso com carinho na última montagem de árvore na qual verdadeiramente  participei...
    
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No aroma  adocicado da calda de pernil no fogo ,na bagunça das almofadas na sala de estar ,na pressa desmiolada de cortar laçarotes de fitas...nos gestos rápidos com que escondia o meu presente para que não o abrisse antes da meia-noite .Nos cartões coloridos com a linda letra quase bordada nos envelopes...Nas luzes que pareciam brilhar todas ao seu redor ...
Você foi o meu Natal no abraço cheirando a cravo ,mal disfarçado pelo “Vetiver”.Sem que percebesse ,a especiaria dava um toque inimitável à fragrância amadeirada .Por mais que eu use óleo de cravo sobre a pele,até hoje jamais consegui imitar aquele cheiro...um cheiro de lar genuíno que infantilmente tentei recriar em minha vida,brincando de casinha com bebês que faziam pum pum de verdade e que cresceram rapidamente.Demorei a perceber que tudo o que vivi foi a vã tentiva de recriar a sensação  um portovivia o erstante seguro.Um lar imune ao caos da interação laboral sob a  sombra da qual parecia-me viver mundo.
O Natal  exalava você porque você respirava o natal!E impregnava o ar com a sensação de conforto que somente quem sabe manejar o leme dos próprios sentimentos pode fornecer aos que lhe rodeiam .Ainda tenho calos nas mãos ( literalmente ),que me doem ocasionalmente,por tentar direcionar o leme da vida no peito  e na raça.Abençoada maturidade que me fez descobrir que a experiência e a auto-confiança são os melhores cursores ...
O Natal estava no seu sorriso ,na sua benevolência em receber e agradar a todos sem distinção...Nos seus natais todos eram irmãos .Amigo(as) cunhado(as)...até o zelador que mal conhecíamos.
O carinho e otimismo que punha nas mãos delicadas  ao desembaraçar a folhagem brilhante que se amontoava na caixa de papelão .O brilho de esperança nos seus olhos  ao desembrulhar os minúsculos anjinhos prateados ,como se um gesto tão simplório pudesse despertar as energias mais positivas do universo .
Mas todo o propósito do mundo é a transitoriedade .É o constante ir e vir de sons e  luzes ...de felicidade e  naufrágios .Quando dei-me conta não havia mais natal.Porque você já não estava lá....
Desde a  noite em que seu sorriso congelou de modo fatal,não mais acendi a árvore desfiz-me das bolas ,tantas se partiram .Desfiz-me de mim e de parte da inocência .Dos conceitos  circulares de um espaço acolhedor . Com toda a indecência  que pude dispor no momento ,percebi bem ali , no pátio em frente às portas escancaradas da minha alma, a vida que continuava..a máxima dos ciclos  existenciais . E eu estava só ...seria somente eu contra mim,nadando na correnteza de um mundo aonde a doçura só existe via de regra para as formigas que invadem sorrateiramente a padaria da esquina.
Ainda doi-me pensar nas bolas vermelhas e brilhantes esmigalhadas no armário com odor de naftalina.Ser mulher ainda tão menina me fez crer que bolas vem e vão-se em prateleiras de supermercados...mas o que se parte e esmigalha dentro do coração não há repositório,não pode ser substituído a preços promocionais.Barganhas emocionais terminam  sempre em prateleiras de lágrimas e mágoas , colecionáveis  a títulos pouco convencionais.
Ouço o coro :então é Natal.É eu sei,não o entoo como dantes, mas sinto :É NATAL e desejo de coração a todos que amo e respeito que o Natal seja-lhes extremamente benéfico,farto,feliz e perene  nos seus espíritos. Em algum lugar dentro de minhas lembranças aqueles Natais  sempre se repetem ,e só quando todos dormem e as luzes coloridas me fazem companhia na sala eu me sinto à vontade para fechar os olhos e sussurrar aos meus fantasmas tão queridos : - É Natal,aonde estiverem desejo que estejam bem também...e  eu sobrevivi . Eu preciso sobreviver sim...E para você , minha “fada madrinha “,nem digo nada porque sei que nesse dia você estará  ali comigo,escutando o meu coração para sempre ,porque você...ahhh...Você sempre  foi o meu verdadeiro Natal!

                                                               ( M. Almeida )

                                                 

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