Quando pensei em escrever sobre o natal não saiu nada...do que tencionei.Queria algo infinitamente bonito ...com uma suavidade que aconchegasse a alma do leitor e que transmitisse fé na vida ,fé nos planos futuros.Bem .. verdade : as vezes coisas bonitas teem as vezes conotação triste ,porque beleza em estado bruto também é tristeza exposta à mão sem maquiagem ou lápis de cor.Beleza também se doa em forma de dor criptografada em papel ou em documento digital...
E penso com carinho na última montagem de árvore na qual
verdadeiramente participei...
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No aroma adocicado da
calda de pernil no fogo ,na bagunça das almofadas na sala de estar ,na pressa
desmiolada de cortar laçarotes de fitas...nos gestos rápidos com que escondia o
meu presente para que não o abrisse antes da meia-noite .Nos cartões coloridos
com a linda letra quase bordada nos envelopes...Nas luzes que pareciam brilhar
todas ao seu redor ...
Você foi o meu Natal no abraço cheirando a cravo ,mal
disfarçado pelo “Vetiver”.Sem que percebesse ,a especiaria dava um toque
inimitável à fragrância amadeirada .Por mais que eu use óleo de cravo sobre a
pele,até hoje jamais consegui imitar aquele cheiro...um cheiro de lar genuíno
que infantilmente tentei recriar em minha vida,brincando de casinha com bebês
que faziam pum pum de verdade e que cresceram rapidamente.Demorei a perceber que
tudo o que vivi foi a vã tentiva de recriar a sensação um portovivia o erstante seguro.Um lar imune ao caos da
interação laboral sob a sombra da qual parecia-me viver mundo.
O Natal exalava
você porque você respirava o natal!E impregnava o ar com a sensação de conforto
que somente quem sabe manejar o leme dos próprios sentimentos pode fornecer aos
que lhe rodeiam .Ainda tenho calos nas mãos ( literalmente ),que me doem
ocasionalmente,por tentar direcionar o leme da vida no peito e na raça.Abençoada maturidade que me fez
descobrir que a experiência e a auto-confiança são os melhores cursores ...
O Natal estava no seu sorriso ,na sua benevolência em
receber e agradar a todos sem distinção...Nos seus natais todos eram irmãos
.Amigo(as) cunhado(as)...até o zelador que mal conhecíamos.
O carinho e otimismo que punha nas mãos delicadas ao
desembaraçar a folhagem brilhante que se amontoava na caixa de papelão .O
brilho de esperança nos seus olhos ao
desembrulhar os minúsculos anjinhos prateados ,como se um gesto tão simplório
pudesse despertar as energias mais positivas do universo .
Mas todo o propósito do mundo é a transitoriedade .É o
constante ir e vir de sons e luzes ...de felicidade e
naufrágios .Quando dei-me conta não havia mais natal.Porque você já não
estava lá....
Desde a noite em que
seu sorriso congelou de modo fatal,não mais acendi a árvore desfiz-me das
bolas ,tantas se partiram .Desfiz-me de mim e de parte da inocência .Dos
conceitos circulares de um espaço
acolhedor . Com toda a indecência que pude dispor no momento ,percebi bem ali
, no pátio em frente às portas escancaradas da minha alma, a vida que
continuava..a máxima dos ciclos
existenciais . E eu estava só ...seria somente eu contra mim,nadando na
correnteza de um mundo aonde a doçura só existe via de regra para as formigas
que invadem sorrateiramente a padaria da esquina.
Ainda doi-me pensar nas bolas vermelhas e brilhantes
esmigalhadas no armário com odor de naftalina.Ser mulher ainda tão menina me
fez crer que bolas vem e vão-se em prateleiras de supermercados...mas o que se
parte e esmigalha dentro do coração não há repositório,não pode ser
substituído a preços promocionais.Barganhas emocionais terminam sempre em prateleiras de lágrimas e mágoas ,
colecionáveis a títulos pouco
convencionais.
Ouço o coro :então é Natal.É eu sei,não o entoo como dantes,
mas sinto :É NATAL e desejo de coração a todos que amo e respeito que o Natal
seja-lhes extremamente benéfico,farto,feliz e perene nos seus espíritos. Em algum lugar dentro de
minhas lembranças aqueles Natais sempre
se repetem ,e só quando todos dormem e as luzes coloridas me fazem companhia na
sala eu me sinto à vontade para fechar os olhos e sussurrar aos meus fantasmas
tão queridos : - É Natal,aonde estiverem desejo que estejam bem também...e eu sobrevivi . Eu preciso sobreviver sim...E
para você , minha “fada madrinha “,nem digo nada porque sei que nesse dia você
estará ali comigo,escutando o meu
coração para sempre ,porque você...ahhh...Você sempre foi o meu verdadeiro Natal!
( M. Almeida )
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