domingo, 10 de fevereiro de 2013

Lembrança




Yvy segurava a pequena caixinha dourada com o mesmo encanto da primeira vez,quando o seu pai lhe entregara um pequeno volume embrulhado em papel prata , brilhante e envolto em um enorme e fascinante laçarote cor de rosa.Como poderia esquecer o seu aniversário de quinze anos ? Parecia-lhe tão real quanto se houvera sido ontem .O sonho de toda a menina!Recordava nitidamente o abraço carinhoso do pai e a expressão de ternura em seus olhos naquela manhã de Fevereiro .Quinze anos !A "bonequinha" tão querida e mimada pela família,ainda guardava traços da garotinha sapeca e meiga que não dispensava dançar ,cantar e ler .A "alegria da casa" como era chamada pelas tias sisudas  que não conseguiam resistir às suas palhaçadas .Em pequenos flashs ,toda a sua infância passou-lhe pela cabeça como a montagem de uma história que parecia tão recente quanto o ingresso no ensino médio.
Ela ,tocando violão escondida no quarto para que a mãe não a visse encostar no diGiorgio de tarrachas trabalhadas em madrepérola ( conforme instruções,só em pensar pôr o dedo já seria sermão certo !)
Ela,tentando equilibrar-se na primeira bicicleta e por não saber manejar os freios ,espatifando-se nos latões de lixo no final da rua inclinada ( sempre que lembrava disso ria muito )
Ela,recebendo um sermão da professora de artes ,porque não acreditara que o desenho entregue era mesmo da sua autoria.Disseram ser muito bem feito para uma criança daquela idade ( teve que repeti-lo ao vivo e à cores para o conselho de classse )
Ela recebendo do tio o primeiro livro de poesia de toda a sua vida ,que decorou sem perceber de tanto recita-las em frente ao espelho.
Apesar das inseguranças e traumas ainda guardava boas lembranças dessa época .Mas a melhor delas ...sim, sem sombra de dúvida ,havia sido a valsa ensaiada dezenas de vezes com o pai .Uma data marcante sem dúvida : Quinze anos.Uma valsa encantada:somente ela e o Srº Carlos .Sem festas,sem platéia ,só quem realmente lhe importava ( estar com quem era de fato importante ) .Uma lágrima fugiu dos seus olhos quando abriu a pequena caixa e percebeu que ainda havia corda suficiente pra entoar o "Tema de Bárbara ".A lágrima tão pequena ,ainda assim pareceu maior do que a cabeçinha da bailarina de biscuit que girava sobre o pequeno pedestal de veludo vermelho. Pensou consigo mesma : " Uma lágrima lhe veste pequena bailarina....mas ,espera !!Isso dará uma linda poesia: vestida por uma lágrima ,não de  angustia ,mas de alegria  "
Correu à bagunça indisfarçãvel da gavetas da escrivaninha e pegou a peqeuna agenda cor de rosa ,que  transformara em caderno de poemas .Escreveu sem perceber o tempo .Um tempo que preenchido  pelo que dá prazer,parece parar !Observou o relógio de pulso que deixara sobre o colo enquanto escrevia.Era exatamente a primeira hora do dia dezesseis de Fevereiro .Quando enfim sua mente aterrisou das nuvens percebeu então ,que a um dia atrás ,enquanto contava para si própria um arremedo da sua história já haviam alguns anos que o pai morrera,e ainda assim não conseguia acostumar-se àquele fato.Suspirou cansada ,não a mente..o corpo e constatou que , escrever sempre consgui fazer com que as horas passassem mais rápido do que quando estava empenhada em qualquer outro hobby .Apagou a luz acendendo mesmo sem querer, mais recordações .Essas envoltas na aura dos sonhos...à espera de serem redescobertas ...


                                                        ( M.Almeida )



                                                  

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