sábado, 2 de fevereiro de 2013

Sim-Seriedade I



                                                                    I

Inúmeras vezes aproximara-se da  máquina.Necessidade imensa de escrever o que lhe era custoso descrever.Criar uma estória soaria mais fácil do que compreender a sua propria através de um desabafo.Inúmeras vezes ensaiara explicações em papel.Rasgara todas as folhas .Não extamente por que não fossem válidas ,longe disso !Mas até que ponto e para quem valia pena explicar-se ? Para si mesma ,talvez?! Mas para isso haviam os espelhos afinal a fala saía fluida, pouparia-lhe tempo ,desentalaria enfim o soluço preso durante o trânsito.Mas não!Há muito já não se olhava no espelho.Falta de tempo.Talvez falta de coragem.E as correntezas de emoções iam acumulando-se no semblante aparentemente tranquilo...criavam constantes reflexos d'agua nos olhos  e já não sabia se escrever lhe seria suficiente.
Naquela noite recebera um telefonema.Uma estrela despontando na escuridão da falta de perspectiva .Mas o destino escarnecedor que sempre irrompera em desatinos a pacata solidez dos sonhos ,comprazi-se em destroçar a folha transparente da  imaginação.Uma mensagemm dúbia ,uma via rubra de diretrizes distorcidas.Uma gota de água na correnteza da vida ...vertia seu olho então.Apenas em uma lágrima canhotamente  chorara tudo a que imaginara ter direito.
A flor da pele, mais frágil que uma pétala,mas potiaguda qual  espinho.Tão à flor da pele que esquecera os eteceteras  e não mais sabia aonde encaixar-se entre tantas interrogações .
Sabia apenas que era ela  aquela  ave persistente que eriçava-se ao primeiro vento Sudeste e seguia .As asas que buscavam um norte sem avaliar os riscos do vôo eram as dela.Sabia ser ela a que transbodara o limite do sentimento e não sabia aonde guarda-lo.Não cabiam mais em papéis por faltarem definições na gramática para adjetivar tantos objetos indiretos.Objetos aos quais dera nome de sentimentos,porque indiretamente confinaram-lhe à páginas .Ou talvez apenas sentimentos aos quais identificara diretamente como objetos ,para compreender melhor a facilidade com que as pessoas dispunham-os e decompunha-os como se fossem jogos de sílabas.Quantas palavras poderiam ser formadas à partir da a palavra  "realidade"? Lida,lide,real...E da palavra eterno : terno...éter
Nada tão complicado assim.É...quando escritos ,mera escrita : Paixão ,Amor ,Lágrima ,Dúvida ,saudades.. medo.Mas sentimentos vívidos...ahh ,já é história à parte.Sentir é complicado porque muitas emoções veem disfarçadas de outras e juntam-se para sacodir toda  a quietude armazenada na provável segurança.Sentir é um borrão no autoconhecimento .Nominar sensações .rima-las ,avalia-las são meros detalhes.Páginas são rasgáveis  !Mas como se rasga  alma pra reorganizar-se por dentro ?
Em meio a tanta  reflexão intrometida ( que mania chata tinha de pensar demais em tudo !) por vezes perdia o fio da meada e a propria mente já lhe pregava peças .Deveria confiar em quem ? Confiar em si mesma bastaria até quando ?
Um único telefonema parecera resolver tudo.Entretanto uma unica mensagem complicara suas idéias quase diagonais de expectativas .Mas era ela ,sabia.Ela acostumada a habitar escuridões tão profundas  que ao deparar-se com um raio de luz temia misturar-se novamente às sombras.Era ela.Ela quem sempre amara sem retorno ou fora amada sem retornar que ao escolher desapercebidamente quem lhe escolhera,parecia não acreditar que felicidade fosse possível.Até acreditava...mas nem esperava mais enquadrar-se no rol de afortunados. A auto-sabotagem .
 Sorriso fácil,passos seguros ,andar apressado ,olhar arredio.
Uma fortaleza! -diziam .todos
"Prestes a desabar com a primeira brisa de final de tarde "-confessava-se ela ,avaliando  todos os julgamentos  feitos ,sem sequer mexer os lábios .
           
                                         

                                                            (  M.Almeida )




                                                       

                                                          
                                                          


Nenhum comentário:

Postar um comentário