Se lhes serve de consolo nada disso tem a ver com o simpático mundinho da retórica ,sempre tão cheio de vírgulas e correções .Tem a ver é com alma .Tem a ver é com lágrima ...com falhas e fraquezas humanas.Porque cada frase ,seja bordada à rima ,seja encaixada em definições ,tem a ver com a liberdade de expressão que abraça a palavra AMOR.
( May)
Que seja ... A sede insana Em entregar-se de bandeja Ao tato ,ártifice Porção venal sob a pele que lateja No faro letal do exposto segredo Toma-me o medo Asfixia : tua lingua anuncia no céu rubro da boca o gosto impuro de todos os anjos aprisionados na vertente de nossas improvaveis loucuras Artérias artísticas enjauladas no prazer de pertencer sem motivos à todos os nossos perigos (M. Almeida )
Na ponta dos pés que dançam na curva das suas tranças sob os saltos se equilibra Oscila a sua balança entre a mulher e a criança entre a espada e a vida Libra : a filha mais bela vênus aquela que despe o que vemos tirando os véus da verdade Harmônica por natureza amante da luz e beleza tem a arte por sua vaidade Do barro que molda o jarro Da nota que cria a sinfonia da tinta a sangrar os textos das mãos a tecer as vestes Os pés que rodopiam inquietos em um bailado de alma e corpo Da tinta que beija a tela criando as cores da aquarela ao mármore violetado pelo ferro do escultor a arte é o que motiva e o que llhe amansa ela nunca cansa Discípula da avidez nem sempre com sensatez usa as armas que herdou O encanto e a elegância abrem-lhe todas as portas mas o maior dos seus pecados é saber-se não alada e ainda assim valente e crédula atirar-se sem receio ao precipício do amor
Quem é você que se torna o único rosto de todos os meus textos e me faz
gestar pretextos em poesias univitelinas pra cercear tuas rimas ? Quem é você que me veste de estrelas com a magia das palavras sequetrando-me do universo para inventar-me em versos ? Quem é você que me subscreve sob a própria pele para rasurar-me a razão ? Assuma logo sem culpa o seu trono em meu coração... Séras professor dos desconhecidos caminhos da minha alma Serás maestro ,mágico ,amante ,a a me ensinar tua cor Serás mais mais que um escudo, que um homem ,um poema Serás sempre o meu amor ... Quem é você que me abraça no escuro sem desconfiar que é a única luz na
minha estrada ? DE VOCÊ EU QUERO TUDO.APENAS TUDO ! Mais nada... Á VOCÊ eu rendo todos os meus tributos todos os meus intuitos,todas as madrugadas
Recria-me à tua imagem e desejo Escreve em mim o beijo que o tempo nos roubou Recria-me à semelhança dessa arte que torna tua a minha parte Que timbra teu todo o meu amor Criador e criatura enclausurados sob a venda da redescoberta Toca-me de alma aberta mas toma ti a minha essência Guarda o abraço inteiro a prender todos os primeiros ,todos os primordios todos os corpos vestidos por nossa faces nosso amor. Recria-me sem entender que me criei teu molde para escrever você.... e escrevendo crio-nos, minha razão de viver ( M. Almeida )
A garota que morava distante namorava as estrelas mas não ousava conta-las para não acordar o dia. Os dias lhe namoravam a pele mas ardiam-lhe .E eram quase sempre muito corridos. Morava tão longe,tão longe de quem amava ,tão longe do local aonde estudava ...que as vezes podia sentir como se morasse longe de si mesma...por tantos quilômetros que a separavam de coisas que lhe importavam um tanto. Caminhava a passos largos na calçada,distanciando-se mais ainda do mundo entretida com os seus proprios passos rápidos,que sempre eram tentativas desritmadas de distrair os pensamentos e sentimentos que pareciam ser mais velozes que todas as suas distâncias incauculadas. Nem olhava as pessoas nos olhos porque as pessoas que a olhavam nada mais eram que reflexos adormecidos de uma cidade doentia e fétida aonde o calor derretia a alegria mas não destruía os ponteiros que a faziam chegar sempre atrasada a todos os lugares. Os abismos saltavam, dela para o mundo real.Rodeava-se de fossos imaginários ,como se o pequeno corpo fosse um castelo protegido por todos os reflexos de autodefesa contra qualquer aproximação.Recusava-se a fazer parte do que a rodeava .Não lhe cabia por não ser leve .Assim como os anos ,que ela não permitiu que se intalassem sobre o brilho dos olhos e sob os sonhos.A idade indefinia-se a cada segundo.Alguns afirmavam que tinha algo mais que vinte e poucos anos ,outros,que teria pouco mais que trinta.Ela não fazia questão de lhes tirar as dúvidas porque até já chegara a duvidar tambem de quanto tempo havia vivido (algumas vezes,por milagre,sobrevivido ) Não lhe cabiam os medos (que ela parendera a usar como estopim para enfrentar a si mesma tantas e tantas vezes) embora os tivesse sim .TANTOS ! Mas a essa altura do relato ela já devia estar quase concluindo o percurso da Rua do Canal ,a uma boa distância da sua casa ,mas que fazia questão de percorrer à pé porque necessitava exercitar-se ,tamanha era a inquietude dos desejos que viviam a pular ora do peito para mente,ora da mente para os poros. Era uma parada de ônibus distante que a esperava ,mas bem mais rápida.Economizava-lhe 45 minutos de engarrafamento em uma orla esburacada e depedrada pela maresia e pela ação dos homens .E valia tanto a pena.Para estar naquela sala,beber a magia das palavras ,sentir-se inudando-se da segurança que o conhecimento proporciona ,muito mais valia a pena ! Vários pontos ,varios pavilhões ,varios ônibus.Nem sempre dormia em casa .A tia morava quase vizinha à o Campus principal então sempre que podia dormia lá para não chegar atrasada à aula do dia seguinte .E ainda assim as " lonjuras "lhe habitavam porque sua mente ousava vagar a céu aberto mesmo na clausura do corpo e sem hora prevista.Porque seu coração atravessava o vazio preenchido de pensamentos alheios para brincar de entender o que a maioria das pessoas nunca aprenderia em livros. Um endereço certo ela sabia.Havia ! Mesmo quando a maioria das idéias pareciam estar perdidas tinham uma direção. O lugar aonde os ventos eram amigos das suas palavras e perfumavam seus recados com a essência de si mesma .Um lugar aonde o vento a levava a passear entre o aqui e o amanhã.Um amanhã que nem era tão distante para quem habita a terra mas vive no mundo da lua ( M. Almeida )
Um surto furta-cor ,dançante sobre os olhos que beijam o retrato A ânsia de explicar detalhes ,de entender que vale...vale tanto por qualquer guerra,em qualquer canto . Um pêndulo girando tonto é a parte mais proibida :a maçã suculenta da vida é tentação de escorregar sobre o chão ,rasgada ,desalinhada ,vencida esgotada por falta das mãos que sabe,a sabem....ao redor da sua cintura bem segura .Como ou quem segura a garra que arranha por barganha? Maltrata-se por artimanha de afugentar o medo.Há mais insanidade dentro do segredo no contorcer dos dedos sobre a parede.A rede é ama da captura.Onda de loucura ,furando o cerco do bom senso.Em troca da propria dor pra controlar o suor que lubrifica a têmpora ,urra,lamenta-se...Mas tenta.Provocação que não aguenta.Levanta.Senta.Levanta .Senta.Caminha em círculos.Ridículo !!A fera domesticada em circo quase arrebenta o picadeiro .Uma jaula de meias palavras e meia grade envergada sobre o pesode um parágrafo incidental que não por acidente imagina-se ato. Há muito mais por trás da máscara de aparente calma .Há mais da alma que preserva-se desatinando-se a transgredir pra pedir: MAIS . Bem mais de alguma coisa que a sede não sacia ,ainda que a água fria escorra-lhe da bocapra regozijo do travesseiro.Bem mais do que a palavra impudica que evita tornar-se pública. No fim ,a torneira da pia escorrendo uma cachoeira artificial de alento incolor pra os olhos.Uma parede quase arroxeada pelos murros.Uma boca cinzenta de afogar-se no vinho do ciúme impotente.Resvalos de múrmurios engolidos com os soluços fingem rasgar os mapas traçados pelo ardil ,pra encaixar as peças horizontalmente Sim...um corpo inerte na cama ... plainando sobre a pergunta que a consome até o fim : - Quanto da falta desse homem ainda cabe dentro de mim ?
Despertou como se da morte.Um fantasma esvaindo-se do corpo físico após ter sido usada como quebra molas para deter um trem descarrilado.Que sentido fazia tentar descobrir as horas se já havia perdido o compromisso da manhã ? Se havia perdido um compromisso que pensara ser pra tantos amanhãs? Buscou as palavras certas para tranquilizar o espelho mas quase não pôde reconhecer o próprio rosto desfigurado pela dor .Um olhar de um nada ver. Pior:um olhar de nada a ver !Porque já não se reconhecia .Aquela pessoa diante do espelho não tinha absolutamente nada a ver com a garota de dois dias atrás .Pela primeira vez percebeu a opacidade na íris.Um rosto quase sem vincos mas de uma expressão sexagenária que pouca vezes vira em toda a vida.Cadavérica. Pensou com certa ironia que Steven spileberg ficaria feliz em escala-la para figurar em um filme de zumbis.Feliz ?Sim, pela economia de maquiagem e de tempo para operar a transformação teatral. Bem poderia usar a pasta de dentes como bálsamo para olheiras.Espalhara um pouco sem motivo algum sobre os arranhões no pulso e sentiu a gostosa sensação do contato do mentol com a pele.Buscou a frase certa para tentar justificar a si própria o sentido de tudo aquilo.Não havia... Mastigou os parágrafos com pedaços de pão adormecido.Jogou fora o café amargo. De amargor bastava-lhe o seu.O estômago embrulhado pelo vazio era mais que um estômago vazio: o vazio não era pela falta do jantar da noite anterior .Era também o vazio existencial do amor que lhe subira à cabeça e entalara na garganta tirando-lhe do rosto os ultimos resquicios de protetor solar com as lágrimas.Lágrimas que fizeram-lhe ver pontinhos coloridos na tela em branco e que escorreram junto com pedaços de coisas bonitas e invisíveis que não podiam ser vistas,explicadas ou tocadas.É...talvez por não poderem ser vistas ou tocadas ,essa coisas bonitas não fossem reais .Quem saberia dizer ?!A única coisa que sabia é que as lágrimas sim,eram reais.E haviam limpado os restinhos de poeira do dia das pontas dos longos cílios.Quantas gotas teriam caído dos seus olhos ? A única certeza que restara era a de que nunca saberia dizer exatamente,ainda que quisesse. Nem entendia tanto assim de ciências exatas.Ela,inexatamente subdividida entre a lógica e o sentimento,sempre.Sua área era a de humanas.Escolhera as Ciências humanas.Não .Não ela !O seu coração escolhera como sempre .A paixão pela possibilidade de encontrar algum tipo de justiça ( ou de ser instrumento dela ) em um mundo tão injusto .E a única esperança era encontrar uma chama real de humanidade naqueles livros e códigos de legislação,para que não pudesse se recordar ( pelo menos por enquanto ) que sua pessoa era apenas mais um número no mundo.Um número de RG .Um número de telefone.Um número de CPF.Um número no endereço.Um número no perfil da rede social. Um número na fila de contatos da agenda de um provável amor ...e futuramente um número no atestado de óbito. Subtrair-se para acrescentar sorrisos.Diminuir-se para multiplicar o contra-cheque...Dividir-se para caber dentro do coração de todas as pessoas que amava e de todas as circunstâncias espaciais limitantes que a vida lhe impusera.Fracionar-se para não se despadaçar inteira em desepero. É...quem sabe algum dia conseguisse caucular os riscos de equacionar-se tanto...
Estendia-lhe a mão fascinada , tão pequenina era O coração se enchia de alegria ao sentir o toque daquele pequeno ser assemelhado à uma fadinha. Um biscuit de cachinhos cor de mel e olhos vivazes Pensei nisso ao dar-lhe o nome .Chamei-a vida. Trouxe-a à vida sem perceber que era a minha que ganhava um sentido graças à sua existência . Encantava-me leva-la àquela distante e desconhecida terra da minha imaginação -uma icógnita até para mim mesma . Uma criança tentando proteger a outra da feiura do mundo real que as rodeava... Uma criança tentando amparar a outra até mesmo de si e das primeiras marcas que a vida começava a imprimir na pele da consciência. Bonequinha morena ,a magia da admiração em seus olhinhos negros,doava aos meus o poder de tecer as mais suaves histórias e canções de ninar .Nossas viagens à "dream's Land" em uma nave particular contruída só de amor e sopros doados pelo vento noturno que beijava as paredes frias da velha casa Abraçadas mais que em corpo , em alma e pensamentos penso que aceditávamos ser imortais e conseguir deter a devastação da inocência causada pelo tempo ( difícil vê-lo como amigo) Contos ,estórias ,lendas...uma tentiva de colorir a nossa própria história. Nenhuma jamais conseguiu ser tão linda e mágica quanto a sensação daqueles momentos de aconchego ... nenhuma seria capaz de descrever a perfeição daquela paz momentânea ou o privilégio de sentir a sua presença miúda ,macia e perfumada adormecendo entre os meus braços
( M.Almeida )
Pra Vika ,minha bonequinha morena de cachinhos dourados ( sempre vai ser )
Encapsulado em atos cresce o e agoniza o corpo martiriza a entranha que o nina mas já não há socorro ou bisturi que extirpe o sentimento A agonia de uma gestação atípica aonde o feto repugna o organismo que o nutre num apego inútil à morte Com sorte seríamos consortes Mas entre todas as contrações das palavras sublinha-se o corte rasgado pelo medo Reviram-se as visceras para expurgar o que a habita Reviram-se os olhos a enclausurar as lágrimas revistas pelo que de tão puro recusa-se a vingar Apenas semente e já ameçada pelo ceifo Apenas amor , de veia expostas e cordão unificado por onde passam os mesmos sonhos ,tão mesmos temores.Malfadados A simbiose perfeita que outro corpo rejeita dilacera os músculos espasmodicamente como a esperar que eu própria o mate. A cada manhã nascida ,quase sinto-o em meu ventre e acaricio-o em mim como a pedir que sobreviva à propria fome de destruição.Como se o calor das minhas mãos pudesse conter o ímpeto do coração que bate quase como se dentro do meu proprio corpo. Prenhe de ilusões sim , grávida de tuas palavras que se afogam amnioticamente no pulsar involuntário da mente A luta premente é conter o pequeno grão que se desenvolve sem noção da propria força É um parto Todos os dias a decidir que fica-me enquanto deseja que eu parta. Para não partir eu grito: reflexo inconciente de quem protege o que ama Para não partir,parto-me ... E por todas as vezes,temendo sobrevir à escuridão morna do útero e enfrentar a luz da realidade ,sangra-me Tu... Sangra-me ( M. Almeida )
Entre todas as estrelas despontam-me teus olhos Fogos de artíficio encimando à solidez inconcreta de edifícios...é difícil Despontam-me indícios de nós Há voz naquilo que calo Há colo na ausência que trago e o trago não cura o afago afogado entre os dedos em segredo , entrelaçados no desespero dos fios desalinhados... no reflexo dos espelhos. Escondido o olhar entre as mechas do cabelo eu apelo: revelo-te na íntegra nosso relevo. Três letras ,três pontos perspontando etceteras o encontro crucial da tua ausência crua,nua e presente entre os meus pêlos
Da voz insone à ausência que consome é pura fome disforme no vazio enorme no escuro da mente É a urgência dormente quem primeiro pressente que o caminho mais rápido está logo à frente quase atrás desses lados mais áridos que fingem passos mais fortes afugentando as palavras que tateiam os lábios em dança provisória que bebe nossa demora em forjar a aliança mais forte entre a lança que rasga o segredo projetando a seta que segue direto ao alvo sem rumo da sorte ( M. Almeida )