sábado, 12 de janeiro de 2013

O Parto



Encapsulado  em atos
cresce o e agoniza o  corpo
martiriza a entranha que o nina  mas
já  não há socorro ou bisturi que extirpe o sentimento
A agonia de uma gestação atípica
aonde o feto repugna o organismo que o nutre
num apego inútil à morte
Com sorte seríamos consortes
Mas entre todas as contrações
das palavras sublinha-se o corte rasgado pelo medo
Reviram-se as visceras para expurgar o que a habita
Reviram-se os olhos a enclausurar as lágrimas  revistas
pelo que de tão puro recusa-se a vingar
Apenas semente e já ameçada pelo ceifo
Apenas amor , de veia expostas e cordão unificado
por onde passam os mesmos sonhos ,tão mesmos
temores.Malfadados
A simbiose perfeita que  outro corpo rejeita
dilacera os músculos espasmodicamente
como a esperar que eu própria o mate.
A cada manhã nascida ,quase sinto-o em meu ventre
e acaricio-o em mim como a pedir que sobreviva
à propria fome de destruição.Como se o calor
das minhas mãos pudesse conter o ímpeto  do
coração que bate quase como se dentro do meu proprio corpo.
Prenhe de ilusões sim  , grávida de tuas palavras
que se afogam amnioticamente no pulsar involuntário da  mente
A luta premente é conter o pequeno grão
que se desenvolve sem noção da propria força
É um parto
Todos os dias a decidir que fica-me
enquanto deseja que eu parta.
Para não partir eu  grito: reflexo inconciente de quem protege o que ama
Para não partir,parto-me ...
E por todas as vezes,temendo sobrevir à escuridão morna do útero
e enfrentar a luz da realidade ,sangra-me
Tu...
Sangra-me




                                                


                                                                   ( M. Almeida )



                                                       




                                                     


                                        

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