A garota que morava distante namorava as estrelas mas não ousava conta-las para não acordar o dia.
Os dias lhe namoravam a pele mas ardiam-lhe .E eram quase sempre muito corridos.
Morava tão longe,tão longe de quem amava ,tão longe do local aonde estudava ...que as vezes podia sentir como se morasse longe de si mesma...por tantos quilômetros que a separavam de coisas que lhe importavam um tanto.
Caminhava a passos largos na calçada,distanciando-se mais ainda do mundo entretida com os seus proprios passos rápidos,que sempre eram tentativas desritmadas de distrair os pensamentos e sentimentos que pareciam ser mais velozes que todas as suas distâncias incauculadas.
Nem olhava as pessoas nos olhos porque as pessoas que a olhavam nada mais eram que reflexos adormecidos de uma cidade doentia e fétida aonde o calor derretia a alegria mas não destruía os ponteiros que a faziam chegar sempre atrasada a todos os lugares. Os abismos saltavam, dela para o mundo real.Rodeava-se de fossos imaginários ,como se o pequeno corpo fosse um castelo protegido por todos os reflexos de autodefesa contra qualquer aproximação.Recusava-se a fazer parte do que a rodeava .Não lhe cabia por não ser leve .Assim como os anos ,que ela não permitiu que se intalassem sobre o brilho dos olhos e sob os sonhos.A idade indefinia-se a cada segundo.Alguns afirmavam que tinha algo mais que vinte e poucos anos ,outros,que teria pouco mais que trinta.Ela não fazia questão de lhes tirar as dúvidas porque até já chegara a duvidar tambem de quanto tempo havia vivido (algumas vezes,por milagre,sobrevivido ) Não lhe cabiam os medos (que ela parendera a usar como estopim para enfrentar a si mesma tantas e tantas vezes) embora os tivesse sim .TANTOS !
Mas a essa altura do relato ela já devia estar quase concluindo o percurso da Rua do Canal ,a uma boa distância da sua casa ,mas que fazia questão de percorrer à pé porque necessitava exercitar-se ,tamanha era a inquietude dos desejos que viviam a pular ora do peito para mente,ora da mente para os poros.
Era uma parada de ônibus distante que a esperava ,mas bem mais rápida.Economizava-lhe 45 minutos de engarrafamento em uma orla esburacada e depedrada pela maresia e pela ação dos homens .E valia tanto a pena.Para estar naquela sala,beber a magia das palavras ,sentir-se inudando-se da segurança que o conhecimento proporciona ,muito mais valia a pena ! Vários pontos ,varios pavilhões ,varios ônibus.Nem sempre dormia em casa .A tia morava quase vizinha à o Campus principal então sempre que podia dormia lá para não chegar atrasada à aula do dia seguinte .E ainda assim as " lonjuras "lhe habitavam porque sua mente ousava vagar a céu aberto mesmo na clausura do corpo e sem hora prevista.Porque seu coração atravessava o vazio preenchido de pensamentos alheios para brincar de entender o que a maioria das pessoas nunca aprenderia em livros.
Um endereço certo ela sabia.Havia ! Mesmo quando a maioria das idéias pareciam estar perdidas tinham uma direção.
O lugar aonde os ventos eram amigos das suas palavras e perfumavam seus recados com a essência de si mesma .Um lugar aonde o vento a levava a passear entre o aqui e o amanhã.Um amanhã que nem era tão distante para quem habita a terra mas vive no mundo da lua
( M. Almeida )
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