quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Urbanidades



                        

  Esse calor quase sólido de mais um dia empoeirado a transpirar maresia , me atordoa .
  As mentes cheias e mãos vazias dos estressados transeuntes ,nessa agonia que é confusamente respirável,
me sufoca ...obriga-me a ocultar o suspiro de tensão que escondo em meio ao que não já não me cabe .
  Distraidamente eu posso sentir sua presença ,quase materializada na árvore que a ceita a carícia  morna do vento e
curva os galhos a espreguiçar-se de prazer.
  Quase posso senti-lo no sorriso do casal de namorados que nem me nota passar , como o sinto na gota doce de sorvete a escorrer pelo canto da minha boca . Sintoma de paixão , é sonhar acordada buscando secretamente na balburdia das calçadas algo que me soe familiar e enterneça a desaprovação do que tanto incomoda .Um pequeno estribilho de ave que anuncie tempos bons e repercuta no vazio ,enfim ...que ao menos soe um pouco como você .Ou como o pouco que sei de você...E de todas as certezas fica a necessidade de sentir o calor das suas mãos desanuviando essa angústia...
   De todos os desejos restam-me os sussurros constantes ,loucos para fugirem dos meus lábios e emaranhar-se na sua nuca . Idéia maluca !
   Duvidaria de mim se não reencontrasse nas próprias lembranças o que confusamente o tempo nos trouxe.E imagino tantas maneiras de lhe dizer alguma coisa ( meu Deus eu realmente preciso entender o que é isso que me arranca de mim sem minha permissão ) ensaiando dezenas de timbres e inúmeros gestos...formas de me aproximar...Mil maneiras absurdas me vem à cabeça  sem que nenhuma delas consiga combinar com o tom desbotado das ruas por onde caminho diariamente.Sem que ao menos alguma delas se encaixe no pulsar incongruente do coração , a cada ímpeto que tenho de banalizar toda a desordem ao meu redor e correr ao seu encontro.
         
 
 
                                                                ( M. Almeida )
 
 
                             

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